InícioComércioA Organização Mundial das Alfândegas e sua importância no comércio internacional

A Organização Mundial das Alfândegas e sua importância no comércio internacional

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“As fronteiras separam, os costumes conectam”

Ao nos referirmos aos conceitos de comércio exterior, comércio internacional ou comércio mundial, nos referimos ao conjunto de transações econômicas que incluem a troca de bens e serviços entre países, bem como seus mercados internos.

Para os nossos países, as operações de comércio internacional são de grande importância no desenvolvimento econômico das nações e estão intimamente relacionadas à troca de produtos e à movimentação de recursos e capitais, razão pela qual exercem grande influência na criação de empregos, no investimento público e privado, bem como no estabelecimento da política econômica de cada uma das nações.

Desde sua criação em 1952, a Organização Mundial das Alfândegas (OMA) tem trabalhado para melhorar a eficiência das administrações alfandegárias desenvolvendo padrões internacionais, promovendo a cooperação e fortalecendo a capacidade para facilitar o comércio legítimo, garantir a arrecadação justa de receitas e proteger a sociedade. Para isso, está estrategicamente estruturado para atender às diferentes necessidades dos 185 Estados-Membros que o compõem e está organizado em 3 direções que fornecem apoio, guias, instrumentos e assistência técnica. Estes são:

  • A Direcção de Assuntos Tarifários e Comerciais. Responsável por questões de classificação (nomenclatura), avaliação e regras de origem.
  • A Direção de Conformidade e Facilitação. Responsável por questões de conformidade, execução, procedimentos e facilitação de comércio e;
  • A Direcção de Capacitação. Responsável por coordenar e fornecer capacitação, assistência técnica e treinamento aos membros da OMA para fins de desenvolvimento organizacional, reforma e modernização.

O mais alto órgão decisório da OMA é o “Conselho” e é composto por todos os Estados-Membros que fornecem supervisão e direção estratégica para a Organização durante sua reunião anual.

Os membros da OMA são divididos em seis regiões, cada uma representada por uma Vice-Presidência Regional. A Região das Américas e do Caribe AMERICARIBE é composta por 33 Estados-Membros divididos nas seguintes sub-regiões:

  • América do Norte: Canadá, Estados Unidos da América e México.
  • América Central: Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá.
  • América do Sul: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.
  • O Caribe: Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Bermudas, Cuba, Curaçao, Haiti, Jamaica, República Dominicana, Santa Lúcia e Trinidad e Tobago.

O cargo de Vice-Presidente Regional da AMERICARIBE é atualmente ocupado pela Superintendência Nacional de Administração Aduaneira e Tributária do Peru.

A perspectiva dos Membros constitui a camada sobre a qual as ações da OMA se baseiam para atender a essas necessidades identificadas e são articuladas em quatro eixos estratégicos contidos no Plano Estratégico 2022-2025:

  1. Facilitação do comércio.
  2. Arrecadação de receitas.
  3. Proteção da sociedade.
  4. Desenvolvimento organizacional.

Na mesma linha, na área do comércio exterior, as Administrações Aduaneiras são responsáveis ​​por zelar pelo cumprimento dos acordos comerciais internacionais e controlar as operações de comércio internacional, atuando em conjunto com todas as partes interessadas. Eles são uma agência de fronteira importante responsável por todas as transações comerciais internacionais e uma administração governamental central responsável pela implementação do Acordo de Facilitação do Comércio (TFA) da Organização Mundial do Comércio (OMC), entre outros. Nesse sentido, a OMA tem incentivado continuamente seus Membros a adotarem uma abordagem ativa nas negociações da OMC sobre Facilitação do Comércio.

O AFC teve especial relevância em todos esses esforços, pois não só demonstrou o compromisso com o sistema multilateral de comércio, mas também trouxe consigo um maior nível de previsibilidade e transparência nos processos aduaneiros e se consolidou até o momento com a ratificação do acordo por 154 Estados-membros da Organização Mundial do Comércio, denotando assim o papel preponderante que as alfândegas têm ao ter mais de 90% de responsabilidade na implementação de ações que permitam o cumprimento dos compromissos adquiridos após sua ratificação. Dos Estados-Membros que ratificaram o TFA, 27 pertencem à Região das Américas e do Caribe da OMA.

No contexto da OMA, facilitação do comércio significa a eliminação de restrições desnecessárias ao comércio e isso pode ser alcançado por meio da aplicação de técnicas e tecnologias modernas, ao mesmo tempo em que melhora a qualidade dos controles e garante que eles sejam harmonizados de acordo com as boas práticas internacionais. Uma ferramenta fundamental neste contexto é a Convenção de Quioto sobre a Harmonização dos Procedimentos Aduaneiros, que entrou em vigor em 1974, e foi seguida pela Convenção de Quioto Revista em 1999. A OMA tem 185 Estados-Membros responsáveis ​​pela gestão de mais de 98% do comércio mundial, e destes, 133 ratificaram este acordo a nível global; e da Região das Américas e do Caribe, ratificaram-no: Argentina, Brasil, Canadá, Cuba, Estados Unidos da América, Guatemala, Jamaica e República Dominicana.

A OMA, por sua vez, desenvolveu uma Estratégia abrangente de Capacitação nesta área com o objetivo de apoiar seus Estados-Membros no desenvolvimento ou aquisição de habilidades, competências, ferramentas e recursos necessários para permitir que as Administrações Aduaneiras melhorem suas capacidades a fim de cumprir suas funções, incluindo o Programa MERCATOR, o guia para a “Implementação do Acordo de Facilitação do Comércio da OMC” e a orientação da OMA sobre “Comitês Nacionais de Facilitação do Comércio”.

Em termos de harmonização, a OMA desenvolveu e introduziu o Sistema Harmonizado de Descrição e Codificação de Mercadorias, que é usado mundialmente como sistema básico para a classificação de mercadorias e cobrança de direitos aduaneiros. Ela também administra o Acordo de Valoração da OMC e implementou Regras de Origem harmonizadas que foram submetidas à OMC para revisão.

Conforme observado, a cooperação entre a Organização Mundial das Alfândegas e a Organização Mundial do Comércio é estreita e produtiva, e também se reflete na participação conjunta e regular em reuniões importantes, fazendo contribuições substantivas para as negociações no âmbito da OMC, bem como na ampla colaboração na área de assistência técnica e desenvolvimento de instrumentos de apoio.

Da mesma forma, a globalização e outros impulsionadores estratégicos exigem uma abordagem para gerenciar o movimento de mercadorias através de cadeias logísticas e fronteiras internacionais, e a OMA consolidou isso no instrumento chamado “Alfândega no Século XXI”, que promove o crescimento e o desenvolvimento ao facilitar o comércio e fortalecer a segurança nas fronteiras. Os componentes que compõem este instrumento são:

  • Costumes globalmente conectados, que envolve uma colaboração mais estreita entre as administrações aduaneiras e as partes interessadas no uso de dados, conectividade, controles aduaneiros e reconhecimento de Programas de Operadores Econômicos Autorizados, entre outros.
  • Melhor coordenação da gestão de fronteiras, que envolve uma cooperação eficaz entre todas as autoridades e organismos envolvidos nos processos de controlo de fronteiras e nos requisitos regulamentares aplicáveis ​​a passageiros, mercadorias e meios de transporte.
  • Gestão de risco baseada em informação e na tomada de decisões eficazes com base nela.
  • Colaboração aduaneira-empresarial, como estabelecer acordos estratégicos com operadores confiáveis ​​e garantir que a colaboração seja mutuamente benéfica.
  • Implementação de métodos, procedimentos e técnicas de trabalho modernos, Isso implica inovação constante nas alfândegas e implementação de programas abrangentes de modernização aduaneira para processos, infraestrutura, tecnologia, segurança e recursos humanos.
  • Utilização de tecnologia e instrumentos de alto desempenho.
  • integridade, tomando como referência os fatores contidos na Declaração de Arusha Revisada e os instrumentos disponibilizados pela OMA.

Gostaria de destacar outro ponto importante no qual a OMA vem trabalhando ativamente e que demonstra em vários instrumentos, contribuindo significativamente para as operações de comércio exterior e a segurança da cadeia de suprimentos: Refiro-me aos três pilares do Quadro Regulamentar SAFE: colaboração Alfândega – Alfândega; Alfândega – Empresas e Alfândega – Outros Serviços Governamentais. Esquemas de trabalho notáveis ​​que demonstram que juntos podemos contribuir para a melhoria dos serviços aduaneiros e das operações de comércio exterior.

Da colaboração entre a Alfândega e o Setor Privado surgem os Programas promovidos pela OMA sobre a figura do Operador Econômico Autorizado, que em geral são pessoas físicas ou jurídicas que, em cumprimento às normas internacionais de segurança e às normas, requisitos e obrigações estabelecidas na legislação aduaneira vigente, demais leis e regulamentos internos e após passar por um processo de qualificação pelo Serviço Aduaneiro (de cada país), são consideradas "confiáveis, seguras" e gozarão das facilidades outorgadas por estes Serviços Aduaneiros, em sua relação como parceiros.

Até o momento, a Região das Américas e do Caribe promove ativamente o tema e os programas da OEA, que são fortalecidos com o apoio da OMA. No período de 2020 a 2022, tive a honra de ser Vice-Presidente Regional da Organização Mundial de Aduanas para as Américas e o Caribe, gestão na qual foi obtida uma importante conquista, como a assinatura de um Acordo Regional de Reconhecimento Mútuo (RMA) da figura do Operador Econômico Autorizado, evento que ocorreu em São Paulo, Brasil, em 18 de maio de 2022, com a participação de 11 Administrações Aduaneiras, sendo: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai.

Ilustração: Customs News

Com esta decisão, a Alfândega reafirmou sua disposição e comprometimento em criar um espaço de cooperação para fortalecer o comércio legítimo. Este Acordo de Reconhecimento Mútuo se caracteriza por ter o maior número de países signatários do mundo, o que reflete a liderança da região AMERICARIBE nos esforços de facilitação do comércio.

Desafios futuros

Nossos países estão se recuperando da crise causada pela pandemia da COVID-19 e, para organizações como a Organização Mundial das Alfândegas, isso significou iniciar ações de modernização estrutural e funcional, nas quais estão trabalhando e que demonstraram mais uma vez o papel protagonista que as alfândegas têm na gestão e controle das operações de comércio exterior e o especial interesse que deve ser dado às novas formas de trabalho, ao comércio eletrônico de bens e serviços, ao uso da tecnologia e à gestão de dados, ao fortalecimento da colaboração e das alianças estratégicas interinstitucionais entre as alfândegas, outras agências governamentais e o setor privado, entre outros.

Os desafios são grandes, mas somos uma região ativa e empreendedora e, aproveitando as oportunidades, ferramentas e benefícios da assistência da OMA, podemos adquirir as melhores práticas para gerenciar com sucesso as mudanças e o fortalecimento que o comércio internacional traz.

Por fim, é importante destacar que a Organização Mundial das Alfândegas realizará eleições em julho de 2023 para o cargo de Secretário-Geral da Organização. Neste momento, foi apresentada a candidatura da Administração Aduaneira dos Estados Unidos, por meio do Sr. Ian Saunders, que possui ampla experiência na área aduaneira e comercial; o que reafirma a liderança e as capacidades disponíveis em nossa região.


Informações disponíveis no site da OMA no seguinte link: https://www.wcoomd.org/en/topics/facilitation/instrument-and-tools/conventions/pf_revised_kyoto_conv.aspx)

https://www.wcoomd.org/en/topics/integrity/instrument-and-tools.aspx.

Vice-Ministro do Ministério do Interior desde 15 de janeiro de 2024
e foi Superintendente de Alfândega da Superintendência de Administração
Imposto -SAT- por 7 anos e 9 meses. Foi vice-presidente regional
da Organização Mundial das Alfândegas para as Américas e o Caribe
de 01º de julho de 2020 a 30 de junho de 2022.

É licenciado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade
Rafael Landivar. Possui 3 mestrados em Política, Segurança Pública, além de
de Integração e Desenvolvimento, é graduado pelo Programa de Gestão Sênior da
Escola de Negócios INCAE. É professor da Faculdade de Ciências Políticas da
Universidade Rafael Landívar, nos níveis de mestrado e bacharelado.

No Ministério do Interior, ele será responsável por fortalecer a
segurança nas fronteiras, portos marítimos e aeroportos com especial
ênfase em questões antinarcóticos, imigração e contrabando.

Possui ampla experiência em integração centro-americana,
análise de informação e coordenação interinstitucional, graças à
gestão realizada tanto no setor público quanto em Organizações
Internacional em seus mais de 22 anos de carreira profissional.

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