A América Latina e o Caribe (ALC), o maior exportador líquido de alimentos, são reconhecidos pelo Banco Mundial como "o celeiro e os pulmões do mundo". (1). Nesse contexto, o Trade and Compliance Institute (TCI) iniciou suas atividades na região com o objetivo de promover o comércio internacional por meio do intercâmbio de conhecimento e melhores práticas.
Como parte dessa iniciativa, um webinar sobre os padrões UN/CEFACT aplicados à agricultura, pesca e setor agroalimentar foi realizado em 19 de março de 2025. O evento reuniu especialistas internacionais para discutir a digitalização do comércio, a interoperabilidade de sistemas e a implementação de certificados sanitários e fitossanitários eletrônicos (SPS).
Desafios e progressos na facilitação do comércio
Os participantes destacaram a necessidade de harmonizar e padronizar os procedimentos comerciais para melhorar a eficiência no comércio agrícola e pesqueiro. Foram discutidos os progressos e os desafios na adoção de padrões eletrônicos e na coordenação entre as partes interessadas do comércio global, com ênfase particular em janelas únicas para agilizar os procedimentos alfandegários e fitossanitários.
O papel da ONU/CEFACT e das suas principais partes interessadas
A ONU/CEFACT, órgão intergovernamental encarregado de simplificar e harmonizar o comércio internacional, desempenha um papel fundamental na transformação digital e na interoperabilidade. Durante o seminário, foi destacada a importância de seus padrões na otimização das operações comerciais e na redução de barreiras transfronteiriças. Nesse sentido, os expositores foram representantes de destaque da organização internacional. Especificamente, participaram:
- Kamola Khusnutdinova, Oficial de Assuntos Econômicos e Secretária da ONU/CEFACT.
- Erik Bosker, Coordenador da ONU/CEFACT para Agricultura, Pesca e Agroalimentação.
- Joaquín González G., coordenador do UN/CEFACT na Janela Única.
- Rodrigo Robles, coordenador do Grupo de Trabalho de Agricultura, Pesca e Agroalimentação do TCI.
- Simon Padilla, representante do Fundo de Desenvolvimento de Normas e Comércio (STDF).
- Eduardo Leite, Relator Regional da ONU/CEFACT para a ALC.
Representantes de 15 países, incluindo Argentina, Brasil, Chile, México, França, Holanda e Suíça, reafirmando o interesse global na digitalização e harmonização do comércio agroalimentar.
O relatório do TCI, organizado em oito pontos, é detalhado a seguir para a sua informação:
1. Introdução e esclarecimentos iniciais
Eduardo Leite abriu a reunião explicando o papel do Trade and Compliance Institute (TCI) e sua função como Relator Regional da ONU/CEFACT para a América Latina e o Caribe. O Relator deve:
a) Promover os interesses e atividades da UN/CEFACT entre governos, organizações intergovernamentais, associações comerciais relevantes e organizações de facilitação de comércio e negócios, com o apoio do secretariado da UNECE, responsável pelas comunicações oficiais;
b) Promover a participação de especialistas no programa de trabalho da ONU/CEFACT e promover a implementação de suas normas, recomendações e outros resultados; e
c) Coordenar as atividades da ONU/CEFACT na região.
Engajamento regional: Ele destacou a importância de alinhar as discussões da ONU/CEFACT com as realidades regionais, promovendo a integração por meio de padrões internacionais.
2. Informações gerais sobre a UN/CEFACT
Kamola Khusnutdinova apresentou uma visão geral da estrutura e das operações da UN/CEFACT, abrangendo:
- O papel e o processo de nomeação de chefes de delegação.
- Processos internos e estrutura de governança.
- Processos internos e estrutura de governança.
- Como as partes interessadas podem contribuir para os grupos de trabalho.
- Missão e objetivos da ONU/CEFACT: uma visão geral, destacando a importância da conectividade digital e das cadeias de valor sustentáveis.
- Compromisso regional: enfatizou a necessidade de maior participação dos países da América Latina e do Caribe no desenvolvimento de padrões.
- O plenário é composto pelos Estados-membros, com participação formal por meio de chefes de delegação.
- Há um grupo consultivo dedicado ao UN/LOCODE.
- Outro subgrupo é a Equipe de Especialistas em Rastreabilidade ESG para cadeias de valor sustentáveis na economia circular.
- O programa de trabalho da ONU/CEFACT é renovado a cada dois anos; O atual se concentra em melhorar a conectividade digital e promover cadeias de valor sustentáveis.
- O UN/CEFACT conta com cerca de 1700 especialistas em todo o mundo, dos setores público e privado.
- Os resultados incluem recomendações de políticas (48 até o momento), padrões de comércio eletrônico (mais de 900) e materiais de orientação/treinamento.
- O trabalho é realizado em colaboração com parceiros como a OMC, UNCTAD, ITC, IMO, ICAO e IATA, entre outros.
- Processo de Desenvolvimento Aberto (ODP)
Kamola Khusnutdinova também explicou o Processo de Desenvolvimento Aberto, abordando:
-
As sete etapas para desenvolver padrões e recomendações.
-
A importância da participação multissetorial no desenvolvimento de padrões.
-
Como novas iniciativas podem ser submetidas para avaliação pela ONU/CEFACT.
3. Atividades passadas e futuras no domínio da Agricultura, Pescas e Agroalimentar
Erik Bosker destacou o trabalho realizado pela ONU/CEFACT, incluindo:
1. Material de orientação, como:
a. Documentos técnicos:
• Conformidade de produtos digitais (2023)
• Lacunas no alinhamento da digitalização com os procedimentos de trânsito (2024)
b. Certificado Eletrônico SPS (e-CERT) (2023)
2. Recomendações:
• Recomendações para Facilitação do Comércio
• Recomendações da lista de códigos
3. Padrões:
– Certificado Eletrônico SPS (eCERT)
– BSP eQualidade
– Para vários processos agrícolas: 1. Rastreabilidade Animal, 2. Processo de Folha de Dados de Cultura eDAPLOS, 3. Passaporte Eletrônico Animal (Troca de Informações de Registro de Gado), 4. Relatório Eletrônico de Cultura (eCROP), 5. Proxy de Troca Eletrônica de Dados, 6. Relatório Eletrônico de Observações Laboratoriais (eLabs), 7. Linguagem de Pesca para Troca Universal (UN/FLUX), 8. Sistema de Alerta Rápido para Alimentos e Rações (RASFF), 9. Rastreabilidade de Produtos Naturais Primários e 10. Rastreabilidade e Transparência em Têxteis e Couro.
Erik elaborou sobre o Certificado Eletrônico SPS (e-CERT), mencionando:
• Processo SPS-eCERT G2G de troca eletrônica de certificados SPS.
• Certificado (SPSCERT).
• Reconhecimento de Certificado (SPSACK).
• Guia de Implementação.
• Recomendações de listas de códigos.
• Biblioteca de Componentes Principais (CCL) para elementos de dados padronizados.
• Impacto em outras organizações de definição de padrões (Codex Alimentarius e certificados veterinários modelo WOAH).
• Estrutura da mensagem e consideração para uso de janela única.
A colaboração com o domínio da Janela Única foi destacada em relação ao White Paper: Estabelecimento de uma Janela Única Regional e a Revisão da Recomendação 36 sobre interoperabilidade da Janela Única (Gerar interesse em contribuir para uma recomendação de política para certificação eletrônica de SPS em um ambiente de Janela Única, dentro da estrutura da Recomendação 36, para promover a interoperabilidade e a interconectividade dos sistemas e-SPS).
4. Planos futuros e trabalho em andamento no domínio da Janela Única
Joaquín González G. endereçado:
- Integração de Sistemas de Janela Única: A importância da integração de sistemas de Janela Única com padrões agrícolas foi discutida, destacando a interoperabilidade como um desafio fundamental.
- Projetos de interoperabilidade em andamento: como a interoperabilidade dos certificados fitossanitários e zoosanitários da Aliança do Pacífico.
- A importância da colaboração entre os setores da Agricultura e do Balcão Único.
- Como a Recomendação 36 pode ser revisada para fortalecer essa integração.
- Os benefícios dos processos empresariais harmonizados para o setor agroalimentar.
- Projeto de Janela Única Regional: Foi mencionado o desenvolvimento de um Documento Técnico sobre a Janela Única Regional, que inclui a integração de licenças, autorizações e certificados SPS.
- O domínio One-Stop Shop trabalhou em metodologias de avaliação de balcão único.
5. Importância das normas UN/CEFACT para certificação eletrônica e interoperabilidade
Simón Padilla, do STDF, enfatizou:
- Trabalho do STDF na certificação e digitalização do SPS eletrônico.
- A importância da certificação eletrônica para facilitar o comércio internacional.
- Como a interoperabilidade pode reduzir barreiras técnicas ao comércio: Ele enfatizou a importância da interoperabilidade entre diferentes plataformas de certificação eletrônica e outros sistemas de digitalização de documentos comerciais, destacando a necessidade de sistemas que funcionem de maneira integrada.
- Um novo projeto financiado pelo STDF em colaboração com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) visa desenvolver um sistema para a produção e troca de certificados veterinários eletrônicos, integrando-os em Janelas Únicas. Ele explicou que o projeto se concentrará nas Américas, com o objetivo de se expandir para outras regiões no futuro, em colaboração com a Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH).
- A complexidade da certificação veterinária devido à existência de uma grande variedade de tipos de certificados.
6. Perguntas e respostas
Rodrigo Robles moderou a sessão final, lendo perguntas enviadas anteriormente pelos participantes. Especialistas responderam perguntas sobre:
- Estratégias para acelerar a adoção de padrões UN/CEFACT.
- Desafios na implementação de soluções digitais.
- Oportunidades para fortalecer a cooperação internacional no setor agroalimentar.
7.Conclusão
A ONU/CEFACT reafirmou seu compromisso de servir os países por meio do desenvolvimento e manutenção de padrões, recomendações e materiais de orientação internacionais para facilitar o comércio eletrônico, garantir a interoperabilidade dos sistemas e reduzir as barreiras técnicas ao comércio. A reunião destacou a importância da participação de especialistas no aumento da capacidade técnica e do comprometimento multissetorial com iniciativas de padronização nos setores de agricultura, pesca e agroalimentar.
8. Respostas a cinco perguntas do público
8.1. Quais novos requisitos existem ou podem existir no comércio internacional em relação à Resistência Antimicrobiana (RAM) em animais destinados à produção de alimentos ou proteína animal?
Esta questão é considerada fora do escopo da ONU/CEFACT, pois a organização se concentra na documentação comercial, harmonização de dados e eficiência processual, não na saúde pública ou na política agrícola. Os requisitos relacionados à RAM em animais são de responsabilidade de organizações como WOAH, OMS e FAO.
8.2. Quais são as implicações da não conformidade no nível do comerciante, do país ou da região?
Também é considerado fora do escopo da ONU/CEFACT. Enquanto desenvolve padrões, as implicações da não conformidade (legais, econômicas) são abordadas por reguladores ou órgãos nacionais como a OMC.
8.3. Qual o nível de adoção desses padrões pelos países latino-americanos?
O UN/CEFACT monitora ativamente a implementação regional de seus padrões. Por exemplo, países como México, Chile e Costa Rica adotaram ferramentas da ONU/CEFACT para simplificar a documentação comercial e os sistemas de Janela Única. A taxa média de implementação na América Latina é estimada em 69% (2017), com o México liderando (92%).
8.4. Os portais de comércio internacional e as políticas de integração regional devem integrar esses padrões para trocar dados e documentos entre países?
Este é um objetivo central da ONU/CEFACT. Seus padrões (como UN/EDIFACT e Single Window) são projetados para interoperabilidade em sistemas comerciais regionais.
8.5. Progresso no desenvolvimento de padrões de saúde animal?
Esta questão pode ser considerada fora do escopo da ONU/CEFACT, uma vez que os padrões de saúde animal são desenvolvidos pela OMS. No entanto, a OMSA usou o padrão UN/CEFACT SPS e-Cert como base para mapear 7 certificados veterinários internacionais. É recomendável consultar os códigos de saúde da OMS para atualizações.
1. Banco Mundial. (2020). Paisagens alimentares futuras: reimaginando a agricultura na América Latina e no Caribe. Grupo Banco Mundial. https://documents1.worldbank.org/curated/en/159291604953162277/pdf/Future-Foodscapes-Re-imagining-Agriculture-in-Latin-America-and-the-Caribbean.pdf
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