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Seminário sobre competitividade portuária reúne empresas e autoridades para aprimorar comércio

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Na quinta-feira, 3 de abril de 2025, o Conselho de Carregadores Argentinos organizou um seminário fundamental para o comércio exterior argentino. A organização, que representa os interesses de empresas exportadoras e importadoras — especialmente PMEs — filiada à União Industrial Argentina (UIA) e à Câmara Argentina de Comércio e Serviços (CAC), reuniu especialistas e representantes do setor público para analisar os desafios atuais do comércio exterior.

Durante o encontro, representantes dos setores empresarial e governamental participaram de dois painéis de discussão. O debate se concentrou em três áreas principais: custos e competitividade logística no Porto de Buenos Aires, a perspectiva do setor privado e as ações implementadas pelas agências nacionais.

Em um contexto global de crescentes restrições comerciais, otimizar custos e fortalecer a coordenação entre os setores público e privado torna-se uma prioridade estratégica.

Abaixo estão os destaques de cada intervenção.

Entidades e empresas

Carlos Restaino – Conselho de Carregadores da República Argentina

Restaino, engenheiro e consultor em comércio internacional, abriu o seminário destacando o papel do Conselho de Transportadores Argentinos, fundado em 2007 para melhorar a competitividade do setor e garantir que as PMEs também sejam beneficiadas.

Salientou que o Conselho segue modelos como o Conselho Americano de Transportadores e o Conselho Europeu de Transportadores, e mantém vínculos com a Câmara de Exportadores (CERA) e a Câmara de Importadores (CIRA). “Formamos um Conselho de Trabalhadores Ampliado que representa 100% das cargas de exportação e importação do país."Ele disse.

Entre as questões levantadas pelo Conselho nos últimos anos, Restaino destacou:

  • Terminais portuários e custos logísticos: Foi relatada a falta de transparência em cobranças como a Taxa de Manuseio de Entrega (DHC), que é aplicada arbitrariamente pelas companhias marítimas.
  • Revisão de taxas e encargos: Foi solicitado que a incorporação de novos custos seja evitada até que os documentos de licitação sejam atualizados.
  • Eliminação da taxa de segurança do ISPS: Foi proposto que os custos de segurança fossem absorvidos pelos terminais portuários.
  • Otimização da entrega de contêineres: Um modelo de coleta contínua de contêineres foi sugerido para evitar estouros de custos e melhorar a eficiência.
  • Redução de custos logísticos: Foi proposta a eliminação de sobretaxas em contêineres de 40 pés e a necessidade de agilizar procedimentos com Alfândega e portos.
  • Maior transparência e simplificação: qualquer novo conceito tarifário deveria passar por uma avaliação rigorosa.

Além disso, Restaino anunciou que a criação do Conselho de Carregadores do Mercosul está em estudo, e sua apresentação oficial será em breve perante o Conselho das Câmaras de Comércio.

"A logística deixou de ser um problema de disponibilidade de insumos para se tornar um fator-chave para a competitividade do comércio exterior." ele avisou.

Eduardo Rodríguez – União Industrial Argentina (UIA)

Eduardo Rodríguez, chefe do Departamento de PMEs e Desenvolvimento da UIA, destacou que as sobretaxas portuárias chegam a US$ 86 milhões anuais, afetando os exportadores. Ele também alertou sobre bloqueios sindicais no Terminal 4 e no porto de Rosário, que, por exemplo, obrigam o desvio de cargas para Montevidéu, encarecendo as operações.

Ele também destacou o congestionamento nas entradas do Porto de Buenos Aires, que causa atrasos e reduz a eficiência do comércio exterior. Seu diagnóstico coincidiu com o de Carlos Restaino, que insistiu na necessidade de melhorar a infraestrutura portuária e reduzir os custos logísticos para aumentar a competitividade da Argentina.

Oscar Fernández Choco – Exportadores

Oscar Fernández Choco, diretor da Câmara de Exportadores da República Argentina (CERA), alertou sobre a concentração de mercado e a importância de garantir condições justas aos exportadores. 

Fernández Choco enfatizou que, apesar da alta qualidade dos produtos argentinos, os custos logísticos e as deficiências de infraestrutura continuam sendo um obstáculo. Em particular, ele mencionou as dificuldades no porto de Timbúes. Como solução, ele propôs desenvolver portos de águas profundas, melhorar a conectividade com rotas internacionais e fortalecer os controles de segurança sem prejudicar o comércio, buscando um equilíbrio entre proteção e eficiência operacional.

Fernando Furci – Importadores

Fernando Furci, gerente geral da Câmara de Importadores da República Argentina (CIRA), segue o exemplo de seus antecessores ao abordar os desafios da competitividade empresarial e propostas concretas para enfrentá-los.

Ele ressaltou a necessidade de definir que tipo de portos o país precisa nas próximas décadas, ressaltando que a carga deve ser o foco central do debate. “Sem carga, não há comércio exterior nem infraestrutura portuária sustentável”, disse ele. Ele também alertou que os custos recaem diretamente sobre os empresários, por isso é essencial desenhar um modelo eficiente e equitativo.

 "Muitos desses problemas poderiam ser resolvidos com medidas administrativas, sem a necessidade de grandes reformas estruturais."Essas medidas não são apenas uma solução", afirmou Furci. Entre as soluções, ele propôs eliminar o diferencial cambial, que aumenta o custo do comércio exterior e prejudica tanto importadores quanto exportadores.

Paulina Campion – Alimentos e Bebidas 

Paulina Campion, representante da Coordenadora de Indústrias de Produtos Alimentícios (COPAL), sustentou a visão de negócio com dados, destacando o papel estratégico do setor de alimentos e bebidas na economia argentina e a importância de avançar em uma agenda de competitividade e logística, alinhada aos principais temas do seminário.

Ele observou que a indústria representa 29% do emprego industrial, com 411.000 empregos registrados, e que gera quatro em cada dez dólares exportados. Em 4, o setor registrou um superávit comercial de US$ 10 bilhões e contribuiu com 2024% da receita tributária nacional.

Em relação à logística, ele indicou que 70% das exportações são realizadas por via fluvial e 30% por caminhão, mas destacou que a Argentina ocupa a 73ª posição no Índice de Desempenho Logístico do Banco Mundial, atrás do Brasil, Chile e México. Além disso, os custos logísticos podem representar até 30% do preço final do produto.

Diante desse cenário, a COPAL está promovendo medidas para reduzir custos portuários e otimizar o transporte terrestre por meio de caminhões de reboque duplo, com o objetivo de melhorar a eficiência logística do país.

José María Fantoni – Norte de Santa Fé

O norte de Santa Fé é uma região estratégica para o comércio exterior argentino, com alto fluxo de exportações para o Brasil, Paraguai e Uruguai. José María Fantoni, representante da Câmara de Comércio Exterior da região, destacou a urgência de implementar melhorias em infraestrutura, logística e custos operacionais para fortalecer a competitividade. Ele propôs a adoção de padrões internacionais, como contêineres HQ de 40 pés, a revisão das taxas de transporte para incentivar maiores volumes sem aumentar os pedágios e tornar as atribuições de turnos portuários mais transparentes para reduzir estouros de custos. Ele também alertou para a necessidade de otimizar os serviços portuários com tarifas previsíveis, melhorar o controle de contêineres vazios para evitar rejeições no destino e conter a perda de exportações para o Brasil.

Ele também propôs incorporar tecnologia, como scanners, para agilizar as inspeções alfandegárias e preparar a documentação de exportação com antecedência para reduzir tempo e custos.

Jorge Álvarez- Câmara de Navegação

Jorge Álvarez, representante da Câmara de Navegação Marítima, que reúne empresas de transporte marítimo e fluvial do tráfego nacional e regional, destacou a necessidade de uma gestão logística com foco empresarial. Ele alertou que entre 2013 e 2023, o valor adicionado nas exportações cresceu apenas 13%, refletindo a falta de desenvolvimento do setor, e alertou para três décadas sem avanços significativos em infraestrutura, o que impacta a competitividade e o comércio exterior.

Apesar dessa situação, ele destacou iniciativas em andamento, como o recente acordo entre a Câmara de Navegação e o Centro de Navegação — que representa os armadores estrangeiros — para melhorar a competitividade logística. Ele também destacou o trabalho conjunto realizado com o Ministério da Desregulamentação, a Agência Nacional de Portos e Navegação, a Direção Geral de Alfândegas e diversas câmaras empresariais. Ele concluiu que o setor exige soluções concretas e que a contribuição das empresas privadas ao Estado é fundamental.

Oscar Fernández Choco – CERA

Oscar Fernández Choco, da Câmara de Exportadores da República Argentina (CERA), intervém novamente para propor como reverter a perda de competitividade regional.

Ele destacou que a Argentina passou de 13% das importações brasileiras em 1997 para 5,2% hoje, enquanto a participação da China cresceu de 2% para 24%. Para avaliar a estagnação, ele sugere medir as exportações em toneladas, não em dólares, o que revela um platô logístico desde 2006. Enquanto isso, países como Índia e China aumentaram seu tráfego portuário, e Montevidéu avança com investimentos e maior profundidade, atraindo mais cargas regionais em comparação à estagnação do porto de Buenos Aires.

Ele também alertou sobre o aumento sustentado dos custos logísticos: os pedágios portuários e fluviais aumentaram mais de 340% em dólares desde a década de 90, impactando a eficiência do sistema.

Nesse cenário, apelou à regulamentação urgente do Comité Nacional de Facilitação do Comércio (CNFC), uma ferramenta fundamental — e ainda pendente — para articular soluções concretas entre os setores público e privado, com uma agenda comum voltada para o desenvolvimento produtivo.

Organismos públicos 

Representantes da Alfândega, VUCEA e Portos, além de entidades e empresas privadas. Foto: Customs News

Marcelo Sosa – Alfândega 

Mas isso não é tudo. Após o debate do setor empresarial, o seminário deu lugar a intervenções de órgãos estatais. Marcelo Sosa, Diretor Geral Adjunto de Operações Aduaneiras Metropolitanas da DGA, destacou algumas medidas adotadas para melhorar a competitividade dos portos.

Especificamente, ele mencionou a revogação da Instrução Geral nº 10/2024, que impôs controles rígidos aos transbordos entre terceiros países, causando congestionamento portuário e afetando as operações das principais companhias marítimas de Buenos Aires. "A eliminação desta regulamentação visa agilizar as operações, evitar atrasos e garantir que os operadores nacionais possam acessar os slots nos terminais portuários sem obstáculos desnecessários."

Ele também destacou que a DGA autorizou a transferência de mercadorias para entrepostos alfandegados para fiscalização, medida que reduz os custos de entrada no país. Regulamentada pela Resolução Geral ARCA 5644/2025, esta disposição permite que “o declarante ou despachante realize a conferência nos referidos armazéns, evitando a espera de turno no terminal portuário”. Isso reduz o tempo de espera, alivia o congestionamento nos terminais e melhora a eficiência operacional do comércio exterior, facilitando o cumprimento dos controles aduaneiros sem causar atrasos.

Por outro lado, Sosa se referiu à Resolução Geral 5586/2024 da AFIP, que eliminou a participação de entidades setoriais na inspeção física de mercadorias e flexibilizou certos controles para exportadores e importadores. No entanto, ele esclareceu que a Alfândega não abriu mão de sua contribuição. Nesta nova configuração, a coordenação é feita diretamente com a Direção-Geral das Alfândegas, o que — enfatizou — “otimiza procedimentos e agiliza operações”.

Em sua apresentação, ele também destacou os avanços alcançados na “eliminação de mensagens SIM dentro do sistema informático das Malvinas”. Ele explicou que essas mensagens, geradas automaticamente nas linhas de frente de controle (verificadores, guardas e apresentadores), tinham como objetivo cumprir diversos procedimentos, mas na prática poderiam atrasar as operações.

Por fim, ele mencionou que a Alfândega está progredindo na implementação de um sistema de "rastreamento por satélite" que agilizará as inspeções de importação, especialmente para importadores respeitáveis. Este modelo é baseado em sistemas já implementados com sucesso em outras jurisdições.

"Nesses cinco meses de administração, fizemos progressos significativos e estamos confiantes de que continuaremos a facilitar o comércio exterior e otimizar as operações alfandegárias.", disse Marcelo Sosa, que assumiu o cargo por meio do Disposição 176-E/2024, em outubro de 2024.

Eugenia Rodríguez – Loja Única

Eugenia Rodríguez, diretora do Portal Único de Comércio Exterior da Argentina (VUCEA), pediu ao setor empresarial que aproveite esta ferramenta gratuita para agilizar o comércio exterior. "Sua subutilização é um problema a ser resolvido. "É fundamental que os operadores de comércio exterior o adotem para melhorar a eficiência do setor", enfatizou.

Para isso, Rodríguez explicou algumas funções-chave do VUCEA, como a otimização de importações, exportações e trânsitos aduaneiros por meio de inteligência artificial e busca por item tarifário. "O sistema agiliza as operações, reduz custos e melhora os controles graças à sua interoperabilidade com a Alfândega."

Em logística e seletividade aduaneira, ele enfatizou que a “interoperabilidade” por meio da integração de dados reduz inspeções desnecessárias e prioriza o canal laranja em detrimento do canal vermelho, de acordo com a matriz de risco. Nesse sentido, ele enfatizou a importância da troca de informações em tempo real com as agências reguladoras para fortalecer a supervisão.

Rodríguez destacou a "digitalização" do sistema de reposição de estoques, que permite a gestão automática de saldos em qualquer posto aduaneiro, e anunciou o lançamento do "Maritime One-Stop Shop", com interoperabilidade com SENASA e ANMAT. Além disso, ele anunciou a “Declaração Aduaneira Integral”, que otimizará o processamento de desembaraços aduaneiros e o controle de documentos com uma pasta digital.

Ele encerrou seu discurso pedindo propostas tecnológicas: ""A digitalização é fundamental para um comércio exterior mais ágil e competitivo."

Iñaki Arreseygor – Portos 

Iñaki Arreseygor, novo diretor executivo da Agência Nacional de Portos e Navegação (ANPYN), apresentou um diagnóstico do setor ao assumir o cargo. Ele destacou três problemas: a extensão do contrato do Porto de Buenos Aires sem investimentos reais ou inovação, a estagnação do porto sob gestão estatal e a falta de atualização das normas de cabotagem, o que desviou a carga para rotas terrestres, deteriorando a infraestrutura rodoviária e aumentando os custos logísticos.

Para lidar com essa situação, a ANPYN centralizou funções, eliminando estruturas redundantes e reduzindo o pessoal em 80%, sem afetar as operações. Também equilibrou o déficit operacional, que ultrapassou cinco milhões de dólares por mês.

O atual plano de ação prioriza três eixos: relançar o processo de licitação da Hidrovia Principal para atrair investimentos privados e melhorar a gestão; revisar o Decreto 299 e redefinir o modelo de concessão do Porto de Buenos Aires para reduzir custos e modernizar sua estrutura; e atualizar as regulamentações de cabotagem para movimentar mais carga para a rede fluvial, aliviando rotas terrestres e reduzindo custos logísticos.

Arreseygor garantiu aos operadores comerciais: “Continuaremos avançando com determinação para fortalecer a infraestrutura do país e otimizar a logística, garantindo transparência e eficiência em todas as etapas."

encerramento

Daniel Funes de Rioja – UIA 

Daniel Funes de Rioja, presidente da União Industrial Argentina (UIA), encerrou o seminário com um apelo para transformar desafios em oportunidades e avançar com soluções concretas, apesar da incerteza global. Neste sentido, sublinhou a importância de uma abordagem séria e sustentada, e reafirmou a necessidade de uma “parceria público-privada» que proporciona estabilidade e promove o crescimento.

"A Argentina tem a oportunidade de se formar e demonstrar que está à altura dos desafios globais."Ele concluiu.

Esse foi o espírito que percorreu o seminário. O mundo muda. A Argentina também pode mudar. É hora de cooperar.

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